Há duas décadas, Andriy Shevchenko liderava a Ucrânia para uma campanha histórica nas Eliminatórias Europeias para a Copa do Mundo na Alemanha. Cinco Mundiais depois, a seleção dribla as consequências de uma guerra para tentar voltar à competição pela segunda vez.
No último domingo, a seleção ucraniana venceu o duelo direto contra a Islândia, por 2 a 0, e ficou com a vaga do Grupo D para a repescagem europeia. A classificação direta ficou sob posse da França, que caminhou tranquilamente nas Eliminatórias.
O jogo que manteve acesa as esperanças da Ucrânia foi disputado novamente fora do país ainda devastado pela guerra com a Rússia. Assim como o Shakhtar nas competições da UEFA, a seleção usa a Polônia como endereço improvisado nesta campanha das Eliminatórias.
Depois de mandar seus jogos na Alemanha, Sérvia e Espanha durante as classificatórias da Euro, a seleção ucraniana estabeleceu no país vizinho o seu lar provisório. Na Polônia, a seleção atuou na capital Varsóvia e pela na região da Cracóvia, que faz fronteira com a Ucrânia.
Mesmo atuando fora de casa, os ucranianos conseguiram bons resultados com vitórias contra Azerbaijão e Islândia, e apenas uma derrota para a França. Agora, a seleção precisará novamente do bom retrospecto em um cenário neutro para encarar um vilão nas Eliminatórias.
Quedas consecutivas na repescagem
Quando o assunto é Copa do Mundo, o maior fantasma da Ucrânia é (quase sempre) a repescagem. Antes de estrear no Mundial, a seleção já sofria com os playoffs e, mesmo depois de ir pela primeira vez, continuou patinando na disputa.
Em sete participações em Eliminatórias Europeias, a Ucrânia deixou de ir para a Copa do Mundo em cinco oportunidades por quedas na repescagem. Apenas em 2006, quando Shevchenko levou a seleção de forma direta para a Copa, e em 2018, quando caiu ainda na fase de grupos, o país não sofreu na disputa final.
Nas duas primeiras participações como país independente, em 1998 e 2002, a Ucrânia perdeu a vaga para Croácia e Alemanha, respectivamente.
Oito anos depois, no caminho para a Copa na África do Sul, a Grécia impediu Shevchenko de levar o seu país pela segunda vez consecutiva para o Mundial. No ciclo seguinte, a vilã foi a França, que mesmo perdendo por 2 a 0 no jogo de ida, buscou a reação em Paris, venceu por 3 a 0 e carimbou o passaporte para o Brasil.
O último “quase” aconteceu em 2022 e terminou com mais uma decepção, desta vez em Cardiff. Com um gol solitário de Gareth Bale, País de Galês deixou novamente a Ucrânia pelo caminho.
Na sexta tentativa de garantir uma vaga pela repescagem, a Ucrânia ainda não conhece o seu adversário. Além da seleção do Leste Europeu, Irlanda, Itália, Albânia, República Tcheca, Suécia, Romênia e Irlanda do Norte já estão confirmadas nos playoffs.
A disputa das últimas vagas europeias será disputada nos dias 26 e 31 de março de 2026. Serão 16 seleções divididas em quatro chaves (semifinais). As quatro nações vencedoras das suas chaves garantem a classificação para a Copa.
Campeonato fragilizado e ausência de um líder técnico
Se em 2006, a Ucrânia teve Shevchenko, eleito o Bola de Ouro em 2004, como líder técnico e o futebol local como base para a seleção, duas décadas depois Serhiy Rebrov não conta com os mesmos trunfos na sua seleção.
Para a Copa da Alemanha, apenas quatro dos 23 convocados por Oleg Blokhin não atuavam no Campeonato Ucraniano: Shev no Milan, Voronin no Leverkusen, e Kalynychenko e Gusin no futebol russo.
Neste ciclo, o técnico ucraniano tem metade dos seus 32 jogadores convocados atuando em seu país natal e o restante fracionado pela liga portuguesa, espanhola, italiana, francesa, grega, turca, inglesa e estadunidense.
A diminuição de atletas do campeonato local está diretamente ligada à fragilização da liga ucraniana causada em decorrência da guerra que se arrasta desde o início de 2022. Embora a evolução nesta temporada na retomada de investimentos e competitividade, a competição continua sendo castigada em país devastado pelo conflito.
Além disso, a seleção ucraniana também sofre a ausência de um líder técnico. Afastado por doping, Mykhailo Mudryk ainda não conseguiu atingir às expectativas geradas. O atacante, contratado por 100 milhões de euros pelo Chelsea, flopou na Premier League e também não conseguiu deslanchar na seleção.
Sem Mudryk, a dupla destaque na temporada histórica do Girona, Viktor Tsygankov e Artem Dovbyk ensaiou uma ascensão técnica na carreira, mas não conseguiram manter os níveis de atuação.
Atualmente, Tsygankov vive altos e baixos em uma campanha modesta do Girona na luta contra o rebaixamento, enquanto Dovbyk, artilheiro da La Liga em 2023/24, ainda não deslanchou na Roma.
A dificuldade para encontrar um herói como Shevchenko em 2006 fortaleceu o coletivo da seleção ucraniana. Sem nomes de destaques nas grandes ligas europeias, a seleção aposta na coletividade para reviver a Copa do Mundo viver anos depois.
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