O Botafogo anunciou oficialmente a contratação de Martín Anselmi como seu novo treinador, assinando um contrato de dois anos para substituir Davide Ancelotti, que deixou o comando da equipe há menos de uma semana. Com apenas 40 anos, o argentino ainda é pouco conhecido do torcedor brasileiro, mas já passou pelo Inter e frustrou São Paulo, Flamengo e Atlético, e tem relativo sucesso no futebol mexicano, embora venha de passagem fracassada pelo futebol europeu.
É sobre a passagem pelo FC Porto, de Portugal, que nos debruçamos neste artigo. Com a ajuda de Pedro Jorge da Cunha, diretor adjunto do zerozero.pt, parceiro português d’oGol.
“Indo direto ao assunto e respeitando muito o Martín Anselmi e sua comissão técnica, a verdade é que ele deixou uma péssima imagem aqui no Porto”, avaliou Pedro Cunha.
“O clube já não estava bem quando o Anselmi chega em janeiro de 2025 no Futebol Clube do Porto. Mas a verdade é que o Anselmi conseguiu que o fundo do poço fosse mais profundo”, continuou. “Ele chega ao Porto com uma aura especial, um técnico quase poético, é imbuído de um realismo mágico do (Gabriel) García Márquez. Foi isso que nos foi vendido aqui aos portugueses. Mas a verdade é que em seis meses no Porto o Martin Anselmi mostrou que não entendeu onde estava. Não conseguiu agarrar minimamente o vestiário. Não conseguiu perceber que no Porto não é aceitável a palavra derrota.”
A conversa completa você confere logo abaixo, ou clicando aqui para conferir no nosso canal no Youtube.
De auxiliar ao comando
Anselmi nunca foi jogador, mas já passou pelo futebol brasileiro. Depois de começar a carreira como analista e acumular experiência como auxiliar no futebol argentino, fez parte da comissão técnica de Miguel Ángel Ramírez no Independiente del Valle em 2019 e 2020, chegando ao Internacional em 2021, na passagem do espanhol que durou apenas três meses no time colorado.
Depois disso, iniciou a carreira solo no Unión La Calera, do Chile, e então foi para o Independiente del Valle, com uma passagem de muito sucesso: foi campeão da Taça do Equador e da Copa Sul-Americana em 2022 – nesta última, venceu o São Paulo de Rogério Ceni na decisão – e ficou com a Supertaça do Equador e a Recopa Sul-Americana em 2023 – superando o Flamengo de Vítor Pereira, nos pênaltis, na decisão continental.
De lá foi para o Cruz Azul, onde comandou a equipe mexicana por 46 jogos, com 23 vitórias, 13 empates e 10 derrotas. Seu trabalho chamou atenção de André Villas-Boas, presidente do Porto, que o levou para o futebol europeu no começo deste ano, substituindo Vitor Bruno.
Expectativa e frustração
Anselmi foi anunciado com um contrato de dois anos e meio com a equipe portuguesa. A contratação do treinador virou conflito na Fifa, já que os mexicanos queriam ser ressarcidos pela perda do comandante e acabaram chegando a um acordo de cerca de 3 milhões de euros.
“Pareceu, acima de tudo, muito conformado com aquilo que estava acontecendo. Podemos detalhar depois tecnicamente, taticamente, mas em termos emocionais eu acho que o grande problema dele foi não ter percebido a altíssima exigência que é treinar um dos maiores clubes europeus. A saída dele no final da temporada, depois de um mundial de clubes que foi anedótico, desculpando-me a expressão, mas a verdade foi horrível, miserável”, contou Pedro Cunha.
“Ele foi muito inflexível nas suas ideias de jogo. O Porto é um clube que integralmente joga em 4-3-3. Sempre foi assim. Extremos velozes, cruzamento, muito, muito jogo aéreo para ponta de lança, e muita pressão alta. Portanto, para vocês perceberem, a nossa torcida no Porto gosta mais de intensidade, mais de verticalidade do que um futebol mais pensado. E o Anselmi veio e revolucionou por completo esta ideia que era a ideia base já há muitas décadas do do clube. Ele apostou do início ao fim num 3-4-2-1. Portanto, três zagueiros, quatro meias, com dois alas, ainda por cima, sem características nenhumas para fazer essa posição, e dois atacantes interiores e um ponta de lança”, explicou.
“O Porto bateu recordes negativos de forma concludente. Eu posso dar um exemplo ainda mais concreto, que é um jogo na Amadora (Lisboa), na Reboleira, em que o Porto vai jogar na casa de um dos últimos classificados e que não é goleado porque o Cláudio Ramos foi o melhor em campo, o goleiro do Porto, e o Estrela da Amadora falhou três, quatro gols de forma absolutamente escandalosas”, lembrou.
Dos dois anos e meio do contrato, Anselmi resistiu apenas seis meses, deixando o Porto com 10 vitórias, seis derrotas e cinco empates, terminando o Campeonato Português na terceira posição, mas 11 pontos atrás do Sporting, campeão, e sendo eliminado ainda na primeira fase do Mundial de Clubes, empatando com Palmeiras e Al-Ahly, e perdendo para o Inter Miami.
“Só para terminar, ele teve que lidar e lidou mal com problemas disciplinares graves dentro do elenco. E isso foi uma conversa comum, recorrente, sobre os problemas que ele tinha na gestão do grupo e do vestiário. E, por aquilo que soubemos através de pessoas que trabalhavam muito perto dele, o Martín Anselmi não era a pessoa mais empática do universo, para sermos simpáticos”, completou Pedro Cunha.
Apesar do fracasso no Porto, Anselmi seguiu acompanhado de perto por clubes brasileiros. Chegou a negociar com o Atlético Mineiro para substituir Cuca, mas frustrou o clube e recuou nas conversas. Agora, aceitou a proposta do Botafogo.

