18 de novembro. Uma data especial para o Haiti. Foi neste dia, em 1803, que o país deu o passo crucial para a independência, na famosa Batalha de Vertières. A vitória sobre os franceses imortalizou os heróis haitianos e colocou fim à revolução.
22 anos depois, o Haiti conheceu novos heróis, agora trajados com o uniforme da seleção nacional. Um grupo que desafiou diversos obstáculos para, enfim, voltar à Copa do Mundo depois de 52 anos de espera. Quis o destino que a vaga, e a festa, fosse justamente no feriado de 18 de novembro, com todo seu simbolismo histórico.
A classificação, inclusive, veio com toques dramáticos. A vitória por si só, por 2 a 0 sobre Nicarágua, não era suficiente. Era preciso acompanhar o resultado de Honduras contra a Costa Rica… Um empate que eliminou as duas seleções. Jogadores haitianos acompanharam o fim da partida em campo, em um momento de emoção que registrado no vídeo abaixo.
HAITI ARE INTO THEIR FIRST WORLD CUP IN HALF A CENTURY ?? pic.twitter.com/GozOLqXUBb
— CBS Sports Golazo ?? (@CBSSportsGolazo) November 19, 2025
Caminho atribulado para vaga histórica
A classificação do Haiti para a Copa do Mundo não foi em uma trajetória sempre ascendente. A seleção haitiana não chegou a ver a vaga ameaçada na primeira fase, contra rivais frágeis, como Aruba, Santa Lúcia e Barbados. A despedida no grupo C, no entanto, foi com derrota por goleada para Curaçau, por 5 a 1, terminando em segundo lugar na chave. O rival acabaria por conquistar também vaga histórica na sequência.
O nível de concorrência na segunda fase foi bem diferente. O Haiti era considerado um azarão frente a Honduras e Costa Rica, e com Nicarágua como um rival também em ascensão. O primeiro jogo foi logo contra Honduras, com um empate sem gols. A segunda partida também terminaria em empate, mas já entregando a sensação de que os haitianos poderiam, pelo menos, lutar pela vaga: após sofrerem dois gols da Costa Rica, arrancaram empate em 3 a 3 com hat-trick de Duckens Nazon, em um dos grandes jogos das eliminatórias.
A primeira vitória veio no terceiro jogo, contra Nicarágua, com goleada por 3 a 0. Mas a comemoração durou pouco, com novo 3 a 0, agora uma derrota para Honduras.
Uma surpreendente vitória por 1 a 0 sobre Costa Rica, com uma ainda mais surpreendente vitória de Nicarágua sobre Honduras, deixou o grupo em aberto até a última rodada. Os haitianos fizeram sua parte e acabaram por ser os únicos a sobreviverem na chave – Honduras sequer conseguiu vaga na repescagem.
Sébastien Migné, o técnico que nunca pisou no Haiti
O francês Sébastien Migné Migné se tornou um dos símbolos dos obstáculos do Haiti para chegar na Copa do Mundo. O técnico, afinal, conquistou o feito sem nunca ter pisado em solo haitiano durante seus 20 meses de serviço. O triste motivo: a violência que corrói o país.
“Normalmente moro nos países onde trabalho, mas não posso aqui. Não há mais voos internacionais para lá”, lamentou Migné.
Com ondas de crimes, uma capital controlada por gangues e um país em pleno colapso, Migné teve de contar apenas com atletas em atividade fora do Haiti na reta final, além de atletas nascidos na Europa, mas descendentes da haitianos.
O nome mais famoso da leva é provavelmente Jean-Ricner Bellegarde, em atividade na Premier League pelo Wolverhampton. Duckens Nazon, herói da partida contra a Costa Rica, acabou como artilheiro das eliminatórias, com seis gols, ao lado de Óscar Santis, da Guatemala.

