O novo formato da Copa do Mundo com 48 seleções permitiu à novas nações sonharem com o feito de estar lá. Depois de histórias como Cabo Verde, Jamaica e Jordânia, o último dia das Eliminatórias guardou um momento especial para a pequena ilha de Curaçao, classificada de forma inédita para a Copa do Mundo.
Menor nação em território e em população entre os garantidos no Mundial, Curaçao conquistou a vaga de forma dramática apesar da campanha brilhante. Na fase inicial, a Onda Azul sobrou diante de rivais frágeis e fez 100% de aproveitamento em um grupo com Haiti, Santa Lucia, Aruba e Barbados.
Na fase final das Eliminatórias da Concacaf, Curaçao manteve a trajetória invicta, mas precisou esperar até o último minuto para comemorar a classificação. Com três vitórias e dois empates no grupo com Jamaica, Trinidad Tobago e Bermuda, a seleção comandada pelo holandês Dick Advocaat enfrentou os Reggae Boyz na rodada final em uma partida com doses de emoção.
Para a Jamaica apenas a vitória interessava para conquistar a vaga direta para a Copa e impedir a ida à repescagem. Os donos da casa mandaram a bola no poste três vezes no segundo tempo e não conseguiram superar a defesa de Curaçao, que sofreu apenas cinco gols em toda a Classificatória.
A comemoração da vaga ainda teve uma dose extra de emoção nos acréscimos, quando o árbitro apontou pênalti para a Jamaica, mas foi convidado pelo VAR a reavaliar a decisão. A festa na pequena ilha paradisíaca foi confirmada somente após a retirada do pênalti e a garantia do resultado de igualdade.
Comandada à distância
Sem grandes nomes do cenário do futebol internacional, a seleção de Curaçao tem na área técnica a sua principal referência de experiência. A seleção é treinada pelo holandês Dick Advocaat, que comandou a Holanda na Copa do Mundo de 1994 e a Coréia do Sul na Copa de 2006.
O técnico com passagens ainda por Bélgica, Rússia e Sérvia desembarcou em Curaçao no ano passado e assumiu o projeto de levar a Onda Azul para o Mundial na América do Norte.
A estreia de Advocaat foi na Copa Ouro e terminou com uma eliminação ainda na primeira fase. No entanto, o objetivo maior era nas Eliminatórias.
A campanha invicta de Dick Advocaat na seleção terminou com uma situação inusitada, tendo o treinador comandando a equipe à distância. Na véspera da partida decisiva, o holandês precisou retornar à Holanda para tratar de um assunto pessoal, no qual o treinador evitou detalhar.
Com seis horas de diferença no fuso-horário e com a visão limitada à tela da televisão, Advocaat mandou instruções aos seus auxiliares e sofreu mais do que o habitual para ver a sua seleção carimbar a vaga na Copa.
“Assistir ao jogo do seu time pela televisão é um pesadelo, posso garantir. Você vê tantas coisas que gostaria de ver diferentes, mesmo que seja apenas um metro para a esquerda ou para a direita. Por exemplo, deixamos o camisa 6 da Jamaica muito livre, e ele era o melhor passador deles. Você quer ver isso mudar, mas me limitei a um telefonema para o auxiliar da equipe, Wouter Jansen”, disse o treinador em entrevista ao site holandês AD.
“Fiquei exausto depois da partida, muito mais do que quando estou em campo. Você pode planejar tudo do jeito que quiser, mas perde toda a sua energia”, completou. Apesar dos problemas particulares, Advocaat garantiu que continuará o seu trabalho no comando da seleção e retornará à ilha em breve para iniciar à preparação para a Copa.
“Passei por muita coisa. Desisti muitas vezes, e então me chamavam de novo, e eu recomeçava. Depois de uma atuação como essa, você fica tentado a dizer que essa é a coisa mais linda que já viveu, mas isso é subestimar muitos outros momentos. Mas essa é definitivamente a coisa mais louca que já vivi. Estou bem novamente e estarei na Copa do Mundo”, assegurou o treinador.
Seleção holandesa B?
Embora a área inferior à 500km² e do futebol como segundo esporte mais popular, a ilha de Curaçao construiu uma história de organização e sucesso no esporte antes de chegar à primeira Copa do Mundo.
Desde 2010, Curaçao se tornou um país autônomo e deixou de fazer parte das Antilhas Holandesas, conjunto de ilhas que era formado também por Bonaire, São Martinho, Saba e Santo Eustáquio.
Após se tornar uma seleção independente, Curaçao reforçou o desenvolvimento no esporte e apostou na familiaridade com a Holanda para aumentar a sua força no cenário continental.
Apesar de possuir um campeonato nacional com duas divisões e centenas de atletas registrados na federação, a seleção nacional é formada majoritariamente por jogadores nascidos na Holanda com laços familiares com a Ilha.
Para as rodadas finais das Eliminatórias, a Onda Azul recebeu o reforço dos jovens Sontje Hansen, do Middlesbrough, e Jordi Paulina, do Borussia Dortmund, convencidos pela federação local a defender a seleção de Curaçao.
O principal representante dos nativos é o também jovem Tahith Chong, nascido na capital do país Willemstad, mas formado nas categorias de base do PSV. O prodígio fez a sua estreia pela seleção na Data-Fifa anterior, com dois gols em dois jogos.
Seja com curaçoenses ou holandeses, a união entre nativos e descendentes colocou a ilha conhecida pelas suas praias paradisíacas no mapa do futebol mundial e levará a Onda Azul para o México, Estados Unidos e Canadá.
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