Antes de fazer história com a Ponte Preta, Marcelo Fernandes teve uma relação de longo prazo com o Santos. Viveu glórias e decepções no clube. Com o Alvinegro em nova temporada difícil, o treinador mostrou-se muito crítico aos últimos anos de gestão do clube, repleto de promessas quebradas, em entrevista exclusiva a oGol.
Nascido em Santos, Marcelo Fernandes sempre foi ligado ao Peixe. Foi no clube que, com sete anos de idade, o na época zagueiro mirim começou a sonhar em ser um jogador de futebol. Em 1991, aos 20 anos, esse sonho se tornou realidade, e não tinha como começar diferente. Foram cinco anos defendendo o preto e branco da camisa do Santos, além de alguns empréstimos para clubes como Remo, Botafogo-SP, América-RN.
Em 2001, já na reta final de sua carreira, Marcelo chega ao Náutico para uma experiência que seria imprescindível. É no Timbu que o hoje treinador trabalha com Muricy Ramalho, sua referência dentro e fora dos gramados. E foi com Muricy que Marcelo começou a trilhar sua história na beirada do gramado.
“Ele não foi uma referência para mim, ele é uma referência para mim. Deus me abençoou muito colocando uma pessoa dessa no meu caminho, um cara que sempre procurou ensinar. Independente de você ser bom treinador ou mau treinador, é você ter caráter, você ter honestidade e fazer as coisas direito”, disse o comandante.
“Eu recebi um convite para ser observador técnico do Santos em 2011. Tudo o que eu tinha que fazer eu adiantava, se fosse o treino do profissional de tarde, eu fazia tudo de manhã para sobrar tempo. Eu sentava com papel e uma caneta, ficava anotando todos os treinos dele (Muricy). Um dia ele me pegou pelo braço, me levou no vestiário e falou para os roupeiros ‘a partir de hoje ele vai ser meu auxiliar técnico’. E foi assim a minha história no Santos”, continuou dizendo.
Marcelo retorna ao Peixe e é recebido pelo mágico elenco que deu a terceira Libertadores ao clube. Foi “um prazer, era tudo mais fácil”, nas palavras do próprio comandante. E não demoraria muito até que o auxiliar mostrasse que um dia seu lugar seria como treinador principal. Em 2015, Marcelo foi o técnico do Santos de Gabriel Barbosa, Lucas Lima, Robinho e Ricardo Oliveira campeão do Paulistão.
“Após a saída do Enderson Moreira, eu fiz um jogo em Ribeirão Preto como interino. Vencemos de 3 a 0 e na quarta-feira tinha Santos e Palmeiras. Eu continuei e ganhamos de 2 a 1 na Vila. Ali o Robinho e o Ricardo Oliveira perguntaram: ‘Marcelo, você não quer continuar?’ Aí foram falar com o presidente e ele me deu 12 rodadas no Paulista. Ganhamos na semifinal do São Paulo e na final contra o Palmeiras. Foi um título inesquecível. Você tem que estar preparado, fazer as coisas direito, com honestidade, que as coisas acontecem”, pontuou Marcelo.
Mas o período no Santos não foi só de glórias para Marcelo Fernandes. Depois dessa experiência como treinador, Marcelo voltou a ser auxiliar e permaneceu no clube até 2024. O profissional viveu desde o vice-campeonato da Libertadores em 2020 até o trágico rebaixamento em 2023. E essa decadência que culminou no rebaixamento passa muito pela gestão do Alvinegro Praiano.
“Eu posso te garantir que desde 2020 todos os treinadores que lá passaram tiveram problemas com a administração. Prometiam um monte de coisa e não cumpriam para o profissional. Eu estou aqui falando como um cara que presenciou todos os treinadores e todos os treinadores foram prejudicados. O clube não cumpria. E eu posso te garantir também que todos os treinadores e todos os jogadores deram a vida pelo Santos para tentar o melhor possível”, pontuou.
Marcelo Fernandes foi o quarto treinador do Santos em 2023. O auxiliar assumiu o cargo principal na rodada 24, com 15 jogos a disputar. E, nessas partidas, o Santos conquistou vitórias contra Palmeiras e Flamengo, então candidatos ao título. Foram 21 pontos em 15 jogos, mesma quantidade de pontos que o Peixe havia conquistado nas outras 23 rodadas, mas o fim não foi feliz.
“Eu sou de Santos, cresci no Santos, sou santista, e caiu isso no meu colo, como caiu inúmeras outras oportunidades. É duro, é difícil um profissional passar por isso. Nem eu, nem os jogadores queriam nada disso. Mas eu posso te dizer uma coisa, a minha consciência está mega tranquila, porque eu dei o meu melhor, como todas as vezes”, disse o comandante sobre a campanha do rebaixamento.
Marcelo seguiu no Santos em 2024, mas quase que em outra função. Em conversa com a diretoria, o cargo de treinador principal no novo projeto que o Peixe teria de estruturar foi oferecido, mas essa transição ficaria para outro momento. Para Marcelo, era hora do clube passar por uma reestruturação.
“Eu, sem titubear, recusei (o convite). Eu não podia ser egoísta naquele momento. Para mim seria muito tranquilo pegar 200, 300 mil, ficar de treinador, se desse alguma coisa errada, pelo menos eu saía com dinheiro. Eu sei o que o clube atravessou, eu sei o que eu senti pelo clube, então eu achava que era o momento de dar uma oxigenada. O presidente falou ‘como é que pode você não pensar em você, a dignidade que você tem, pensar no clube?’ Mas é o Marcelo, eu sou assim”, disse.
Marcelo, então, entra no ano de 2024 como auxiliar de Fábio Carille, na temporada que seria vitoriosa, mas não como a torcida esperava. O clube conquista a Série B e retorna imediatamente para a elite do futebol brasileiro. As coisas teriam que mudar para que o Santos voltasse a ser o que era, mas não foi da forma como o profissional esperava. Na virada do ano, depois de ser praticamente garantido no clube pelo presidente Marcelo Teixeira, o profissional foi despedido.
“O Santos tinha uma entrevista coletiva ao meio-dia do dia 3 de janeiro, não tinha contratado absolutamente nenhum jogador, a torcida esperando contratação nas férias e precisavam dar uma satisfação para a torcida. O que eles fizeram? Tiraram toda a comissão fixa do clube. Comissão essa, que entregou muito para o clube. Dispensaram quem deu muito a cara pra bater pelo Santos”, finalizou.
Mas Marcelo deu a volta por cima. Hoje, o treinador assumiu um posto que poucos conseguiram na história, o de treinador campeão pela Macaca. Uma trajetória que o treinador contou aqui em oGol. E essa história seguirá sendo escrita em 2026…

