O Mundial Sub-20 conheceu um campeão inédito, mas não surpreendente. O Marrocos evitou o hepta dos favoritos argentinos com vitória por 2 a 0 na final, levando o troféu da categoria de volta para a África depois de 16 anos. Uma conquista que vem em momento histórico para os Leões do Atlas.
Afinal, ainda está fresca a memória de 2022. Ali sim a seleção marroquina surpreendeu o mundo. Primeiro ao passar da fase de grupos sem derrotas, batendo a Bélgica por 2 a 0 e empatando sem gols com a Croácia, duas seleções consideradas favoritas em sua chave. Depois, ao eliminar a Espanha, nos pênaltis, e Portugal, com vitória por 1 a 0.
Marrocos acabaria por cair nas semifinais para a França na Copa do Mundo de 2022. Mas já tinha ali assegurada a melhor campanha de sua história. Terminou com o quarto lugar, derrotada pela Croácia, com quem havia empatado na fase de grupos.
O Mundial foi um marco. Marrocos se estabeleceu como uma das grandes potências da África, se não a maior, a partir dali. Entre 2023 e 2025, apenas duas seleções venceram os Leões do Atlas: a África do Sul, por duas vezes, e o Quênia (mas encarando uma seleção marroquina sem força máxima). Três derrotas em 38 jogos, um título da modesta CHAN, embora tenham falhado na CAN (eliminados pela África do Sul), e classificação antecipada para a Copa do Mundo de 2026.
Um sucesso que não veio por acaso…
Marrocos: Investimento e liderança na África
Em 1998, Pelé mostrou confiança (e esperança) no futebol africano. Profetizou que veria ainda um time do continente campeão do mundo. O Rei do Futebol partiu sem ver sua previsão tornar-se realidade. De fato, a África rendeu boas surpresas em Copas, mas nunca conseguiu firmar seleções por longa temporada entre as maiores do mundo. Os motivos para isso são diversos: precariedade de estrutura; problemas políticos, sociais e econômicos; falta de competitividade local; falta de investimento… O Marrocos tem tentado driblar a cada um deles nos últimos anos.
Um dos primeiros passos foi se estabelecer como um protagonista no futebol do continente. Não apenas pelos resultados em campo, mas com liderança na promoção e evolução do esporte na África. O país passou a investir pesado em futebol – tanto financeiramente quanto politicamente. O Marrocos tornou-se um grande centro para o futebol local, tanto pela infraestrutura quanto pela abertura para encontros, congressos e competições.
“Muitas seleções da África sofrem com a falta de estádios com padrões de Copa do Mundo, então eles vem para o Marrocos para jogar. Em algumas datas Fifa, nós recebemos até 20 seleções africanas – quase uma mini Copa das Nações. Isso também ajuda com treinamento de técnicos, arbitragens e instruções de VAR, assim como treinar pessoal administrativo. Desta forma, o Marrocos está permitindo que o futebol africano se beneficie do seu desenvolvimento e seu avanço tecnológico”, explicou representante da Federação Marroquina, Omar Khyari, à agência Anadolu.
O futebol virou assunto de estado e alvo de altos investimentos, embora o governo local tenha cuidado para não revelar valores, com receio de críticas populares. O fato é que milhões foram investidos em academias de futebol de ponta, com padrão mundial. Clubes do país começaram a ganhar maior reconhecimento internacional, como o Raja Casablanca e o Wydad.
O grande momento será a Copa do Mundo de 2030, com Marrocos entre os países sede. E a estrela da companhia é o estádio Grand Stade Hassan II, preparado para ser um monumento ao futebol, com capacidade para ser o maior do mundo, com 115 mil lugares.
Um título Mundial para comemorar
Ninguém mais irá se impressionar se a seleção marroquina fizer boa campanha em 2026, embora largue abaixo do grupo de favoritos. Mas os Leões do Atlas já tiveram um primeiro grande troféu para comemorar o sucesso de sua empreitada: o Mundial Sub-20.
Neste domingo, Marrocos bateu a Argentina por 2 a 0, contra todas as expectativas, com gols de Yassir Zabiri. Othmane Maamma, destaque na campanha, foi eleito o melhor jogador do torneio. Foi um título inédito para o país, e o primeiro para a África depois de Gana, em 2009.
Os Leões do Atlas venceram Brasil e Espanha pelo caminho, além de terem eliminado a França nos pênaltis antes de baterem os argentinos. O Brasil sequer passou da fase de grupos.
A seleção marroquina ainda tem um compromisso importante para 2025. Vai sediar a CAN, principal competição africana. É uma das favoritas ao título. O sonho maior, no entanto, está reservado para 2026. Poderá cumprir de forma tardia a profecia de Pelé?
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