Abel Ferreira encerrou seu primeiro ano inteiro no comando do Palmeiras sem conquistar títulos. Uma ruptura significativa num clube acostumado a ter o treinador como garantia de competitividade e decisões vitoriosas.
A temporada expôs falhas acumuladas, dificuldades estruturais e escolhas que não surtiram o efeito esperado, mesmo em um time que chegou longe em quase tudo.
Causas e motivações
O Palmeiras conviveu por meses com uma evidente falta de fluidez ofensiva. Em muitos jogos, a equipe parecia previsível, com circulação lenta, pouca criatividade entrelinhas e dificuldade para construir ataques sustentáveis.
O problema ficou ainda mais claro quando o time passou a depender quase exclusivamente de ligações diretas, recurso que se transformou não em alternativa tática, mas no plano principal. Quando esse padrão era neutralizado, o time pouco produzia, e os adversários aprenderam a neutralizar o Palmeiras com mais facilidade do que em anos anteriores.
Esse empobrecimento do repertório também foi consequência direta de um planejamento de contratações pouco eficiente. A exceção de Vitor Roque, que entregou impacto imediato, as demais compras de peso não corresponderam ao investimento.
O caso mais emblemático foi o de Paulinho, um dos mais caros da temporada, que chegou do Atlético Mineiro já lesionado, atuou pouco, quase sempre no sacrifício, e não conseguiu dar resposta técnica real esperada (não pelo menos pelo tempo necessário). Entre ausências e desempenhos aquém, o Palmeiras não obteve dos reforços o salto qualitativo que projetou.
Houve contraponto, mas faltou “cabeça fria e coração quente”
Houve, contudo, um período de evolução. Quando Abel encontrou uma lógica que potencializou a dupla Flaco López e Roque, o Palmeiras viveu seu melhor momento na temporada. Os dois atacantes empilharam gols, resolveram partidas e deram à equipe uma identidade mais agressiva. Parecia enfim o início de uma reta final mais sólida.
Mas essa solução, que já era limitada em termos de variedade de movimentos, não se confirmou nos jogos-chave. Na Libertadores e no Brasileirão, a dupla não sustentou o brilho nos momentos finais, o time ficou engessado no mesmo padrão de sempre e o ataque voltou a travar.
Em paralelo, o ambiente também sofreu interferências externas. As falas exageradas de Abel contra a arbitragem, que atravessaram semanas importantes, criaram ruído, desviaram a atenção do grupo e, em momentos decisivos, contribuíram para a sensação de dispersão. A equipe que historicamente se fortaleceu em torno do foco e da disciplina competitiva pareceu, em 2025, gastar energia demais com “conspirações” no entorno das quatro linhas.
O resultado foi um ano de “quase”. Vice do Paulistão para o Corinthians, Vice da Libertadores para o Flamengo, vice do Brasileiro também para o Rubro-Negro. Um time competitivo, mas previsível. Lutador, mas pouco criativo. Forte, mas incapaz de decidir quando o peso do jogo se tornou mais denso.
Com a renovação encaminhada até 2027, último ano do mandato de Leila Pereira, Abel tem diante de si um duplo desafio: recuperar a identidade ofensiva que fez o Palmeiras dominar o continente e, ao mesmo tempo, corrigir o rumo do planejamento.
O treinador que mudou a história recente do clube viveu sua temporada mais dura, e agora precisa transformar o que foi um ano de limitações em ponto de virada para um novo ciclo.
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